Especialistas afirmam: as chances de engravidar naturalmente diminuem com o avanço da idade. Por outro lado, maturidade emocional e estabilidade financeira são atrativos para as mulheres postergarem a maternidade. Mas, afinal, vale a pena adiar o sonho de ser mãe?
Por Suzana Dias
A veterinária Eni da Silva Firmino, 37 anos, de São Paulo, está feliz da vida: faz cerca de 40 dias deu à luz a pequena Claire (veja a foto acima). Casados há 10 anos, ela e o marido, o enfermeiro Marcelo de Oliveira, 35, finalmente decidiram que era chegada a hora de aumentar a família. “Adiei a maternidade em nome da estabilidade profissional e financeira. Agora, estou numa fase em que posso me dedicar inteiramente à minha filha. Saí do meu emprego e pretendo ficar pelo menos um ano em casa com ela”, diz Eni.
Histórias como a dela têm se tornado cada vez mais corriqueiras nos consultórios dos obstetras. Mas por que a mulher moderna tem postergado a maternidade? Existem vários motivos. Além da preocupação em solidificar a carreira, muitas querem continuar tendo mais tempo para curtir amigos, viagens ou, simplesmente, encontrar o companheiro ideal. Essa demora intencional, no entanto, pode se tornar uma barreira ao sonho de ser mãe, mesmo com os avanços da medicina e as novas técnicas de reprodução assistida.
“Conseguimos reverter vários problemas que impedem uma gravidez, mas ninguém consegue diminuir a idade de uma paciente”, diz João Ricardo Auler, ginecologista, obstetra e diretor-médico da Clínica Pró Nascer, no Rio de Janeiro. “Os primeiros óvulos que eclodem na juventude são os melhores. Já a partir dos 35 anos, sua qualidade cai significativamente.” Para compreender como os anos pesam para o organismo feminino, basta saber que, passada a barreira dos 40, as chances de engravidar naturalmente giram em torno de 5% ao mês. Isso é o equivalente a um quarto das possibilidades de sucesso que existem antes dos 35 anos, quando a cada mês há 20% de chances de ocorrer a concepção. Dos 35 aos 40, essa probabilidade cai para 10%.
E, apesar de muita gente acreditar que a medicina reprodutiva seja a solução definitiva, as coisas não são tão simples assim. É certo que os métodos artificiais de fertilização aumentam bastante a possibilidade de a mulher gerar um filho, mas existem limitações, sim. “Estudos apontam que a taxa média de gravidez após tratamentos de reprodução assistida para quem chegou aos 35 anos é de 36% a cada tentativa. Essa taxa decresce anualmente, atingindo 20% aos 40, e 10% a partir dos 44 anos”, afirma Eduardo Motta, professor de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo e diretor do Grupo Huntington Medicina Reprodutiva, na capital paulista.
Dificuldades reais: chances de aborto são maiores
Na contramão das estatísticas, Eni ficou grávida sem maiores sobressaltos. Engravidou três meses depois de interromper o método contraceptivo que usava. E sua gestação foi tranqüila, sem problemas geralmente freqüentes nas futuras mamães da sua faixa etária, como hipertensão arterial e diabete gestacional. Por fim, a veterinária de São Paulo deu à luz a seu bebê de parto normal, do jeitinho que queria.
Claire nasceu perfeita, depois de 41 semanas de gravidez. “Tomei cuidado apenas com a alimentação. Não comia enlatados e embutidos, que têm grande concentração de sódio, por causa do risco de ocorrência de hipertensão. Também maneirei com o açúcar, para não desenvolver diabete”, relata a mãe de primeira viagem. Embora cada caso seja único, é verdade que, da concepção ao nascimento, o quadro esperado para uma gravidez tardia é um pouco mais difícil.
Além do fato de haver uma menor probabilidade de conseguir gerar um embrião – seja com ou sem ajuda da medicina reprodutiva –, o índice de aborto por causas naturais também sobe, assim como o risco de complicações para a gestante. “Para ter uma idéia, um terço das gestações após os 40 anos termina abortamento espontâneo. Aos 45, a capacidade reprodutiva cai de 50% a 95%, e a incidência de aborto natural chega a mais de 50%”, aponta Eduardo Motta.
Ultrapassada a barreira da concepção, a grávida mais madura precisa de zelo redobrado. “A gestação em pacientes acima dos 35 anos é considerada de risco e exige um pré-natal muito rigoroso”, diz Antônio Júlio de Sales Barbosa, médico obstetra do Hospital Santa Catarina, de São Paulo. “São necessários alguns exames a mais visando prevenir ou amenizar alguma irregularidade.
As consultas também exigem um olhar mais antento.” Segundo o médico, além da maior pré-disposição para ter pressão alta e diabete, há ainda riscos como sangramentos e parto prematuro. Sem falar em alterações circulatórias, que favorecem o nascimento de bebês abaixo do peso.
Equilíbrio emocional e estabilidade são pontos positivos
Se do ponto de vista fisiológico uma série de entraves ronda uma gravidez numa idade mais avançada, no outro prato da balança a experiência conta muito no quesito emocional. Isso porque a maturidade traz serenidade, estabilidade financeira e outros atributos que atuam em benefício da mãe e da criança. “Nessa faixa etária, a mulher está mais segura e consciente do que deseja”, acredita a psicóloga Maria Luiza Lara, do Rio de Janeiro.
Mas e o pique para passar madrugadas em claro, trocar milhares de fraldas, preparar papinhas e correr atrás do pequeno que começa a aprender a andar? Teria a mãe trintona ou quarentona a mesma disposição de uma jovem na casa dos 20 anos? “Hoje as mulheres se cuidam mais, tanto em termos físicos quanto estéticos”, diz Maria Luiza.
Para Eni, nossa mamãe de 37 anos, tudo corre às mil maravilhas. “Tenho toda a disposição e procuro descansar sempre que a Claire dorme. Com tranqüilidade e orientação do pediatra, consegui acostumá-la a espaçar as mamadas. À noite, amamento às 23h, e ela só acorda às 6 da manhã”, comemora.
E a diferença de idade em relação ao filho não será necessariamente um problema, diferentemente do que muitas mães maduras podem pensar. “Conflitos entre gerações existirão sempre, é indiscutível. Estabelecer um bom relacionamento é o principal requisito para saber lidar com uma criança e um adolescente”, conclui a psicóloga Maria Luiza.
Risco de síndrome de Down aumenta após os 40
A decisão de adiar a gravidez precisa ser bem ponderada. Especialmente se o objetivo for deixá-la para depois dos 40 anos. “Até os 35, não existe uma grande dificuldade. Mas, ao se aproximar dos 40 anos, o organismo feminino começa a liberar óvulos de pior qualidade”, alerta Júlio Barbosa. Com o correr do tempo, o maior receio talvez seja a possibilidade de gerar um feto com anomalias cromossômicas, como a síndrome de Down.
“Aos 40, a possibilidade de alterações cromossômicas passa a ser de aproximadamente 1 em 60. O risco de gerar um filho com síndrome de Down é de 1%. Por volta dos 45, as estatísticas chegam a 4%, ou seja, um filho a cada 25 nascimentos”, revela Eduardo Motta.
Sem contar que a idade do pai, se avançada, também poderá contribuir para esse quadro. “Até bem pouco tempo atrás, nada era provado em relação ao papel masculino nas alterações cromossômicas. Mas, atualmente, já se sabe que homens mais velhos produzem espermatozóides ruins, que podem formar bebês com problemas”, alerta o médico João Ricardo Auler.
Nem mesmo a gravidez por meio de reprodução assistida garante 100% que o feto não terá anomalias. O teste de diagnóstico pré-implantacional realizado no embrião, chamado de DPI ou PGD, embora muito eficiente, ainda tem custo muito elevado e não é realizado rotineiramente em todas as clínicas.
Os valores variam em função do número de embriões analisados e da quantidade de anomalias procuradas, mas podem passar de R$ 20 mil. Como o tratamento de fertilização assistida em si já não é uma bagatela, esse adicional pode se tornar inviável para muitos casais.
A opção de congelar os óvulos
A grande novidade no universo da maternidade madura, com certeza, diz respeito ao congelamento de óvulos. Essa alternativa, mais utilizada por mulheres com câncer que precisam se submeter a rádio ou quimioterapia, está se tornando realidade também para algumas brasileiras que desejam adiar a gravidez. O método consiste em retirar alguns óvulos e congelá-los para serem utilizados futuramente.
Em geral, faz-se essa coleta antes dos 30 anos. A técnica vem sendo aperfeiçoada, e as chances de manter o óvulo apto à fecundação após o descongelamento têm crescido. “A estimativa é de que haja, no mundo, entre 300 e 400 bebês nascidos a partir desse método. Na Huntington, por exemplo, cerca de 15 bebês já nasceram, e 150 pacientes têm seus óvulos congelados”, conta o médico Eduardo Motta.
O preço é salgado. Para fazer o procedimento, gasta-se o equivalente a um tratamento para engravidar por fertilização in vitro, o que varia entre R$ 5 mil e R$ 20 mil. Depois, é necessário pagar uma taxa anual de manutenção entre R$ 500 e R$ 1 mil.
Fonte: Guia do Bebê
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