NORMAL OU CESÁREA? Ó DÚVIDA CRUEL!

O Ministério da Saúde aponta que, no Brasil, 79% dos partos são cesáreas, enquanto a Organização Mundial da Saúde recomenda 20%. Afinal, existe um método ideal?


por PATRICIA BOCCIA

De um lado, há um forte movimento a favor do parto normal por parte da sociedade e de instituições. De outro, os palpites de amigas que fizeram cesáreas e acharam a maior tranqüilidade. E a grávida, no meio dessa história toda, fica perdida. Será que é melhor pedir para o obstetra já marcar uma data ou esperar que a gravidez siga seu ciclo normal?



O primeiro passo para resolver essa angústia é confiar no médico para ter a certeza de que ele realmente vai indicar o que é melhor para você e para o bebê. É certo que há um exagero no número de cesáreas realizadas. "A falta de informação cria temores nas mulheres que sentem medo da dor e de não conseguir fazer força na hora certa", opina Daniela Buono, jornalista e uma das fundadoras do grupo Parto do Princípio (www.partodoprincipio.com.br), que tem como objetivo lutar pela melhoria das condições de atendimento ao parto no país. Por outro lado, segundo o obstetra Abner Augusto Lobão Neto, coordenador do Serviço de Pré-Natal Personalizado da Universidade Federal de São Paulo, os médicos têm sua parcela de culpa por falta de preparo em fazer partos normais e pelo desinteresse em passar horas acompanhando uma única paciente. Aqui você ficará conhecendo melhor os dois métodos para poder discutir com seu médico e chegarem a uma boa escolha.

1) Quem pode ter parto normal?
Todas as mulheres estão aptas a um parto vaginal. É uma capacidade do organismo feminino que fica impossibilitado apenas quando há algum problema de saúde com a mãe ou com o bebê.

2) O que define se um parto será cesárea ou normal?
O parto vaginal não deve ter indicações, pois é fisiológico. É a via natural do desfecho de uma gravidez. Já a cesárea deveria ser uma opção apenas em casos em que o parto normal não for possível, como uma grande desproporção entre o tamanho do bebê e da mãe.

3) É o médico quem deve determinar, sozinho, qual será o tipo de parto? De jeito nenhum! Essa decisão deve partir, primeiramente, da mulher. O médico só deve intervir sugerindo a cesárea caso note que clinicamente o parto normal será prejudicial.

4) Quais os argumentos errados usados por alguns médicos para justificar a cesárea? Muitas mulheres fazem cesariana contra a vontade e acabam frustradas por não saber se o sonho do parto normal era realmente impossível.

Por isso, é importante conhecer dois mitos defendidos por certos médicos que podem interferir na decisão da paciente:

. Mito: falta de dilatação antes mesmo de a mulher entrar em trabalho de parto. Muitas vezes a dilatação evolui apenas momentos antes do nascimento.

. Mito: a cesárea com hora marcada ajuda na programação da família e facilita a internação. Mesmo no caso da cesárea, deve prevalecer a vontade da natureza e a do bebê.

5) Quando a cesárea é realmente indicada? Em apenas alguns tipos de situações. São elas:

. Sempre que houver uma grande desproporção entre o tamanho do bebê e a bacia da mãe. Isso ocorre em menos de 3% das gestações.

. Se já tiver sido submetida a mais de duas cesáreas anteriores.

. Hemorragia no final da gravidez causada pelo descolamento da placenta.

. Se o nenê estiver em sofrimento fetal (sem oxigênio) durante o trabalho de parto e a mulher ainda não tiver mais do que 5 centímetros de dilatação.

. Em quadros graves de mães com diabetes, cardiopatias e doenças reumáticas, como o lúpus, e grávidas portadoras do HIV. A chance de transmissão do vírus da aids para o nenê cai 50% em relação ao parto normal.

. Se a posição da criança dentro do útero indica um parto complicado, como quando ele está sentado.

6) Se a mulher passou por uma cesariana anterior ela conseguirá ter um parto normal? Isso não é motivo para não tentar um parto vaginal. Após uma única cesárea, o índice de sucesso de parto normal é semelhante ao índice de quem nunca fez cesariana. Porém, duas ou mais cesáreas anteriores são fatores que praticamente contra-indicam um parto vaginal posterior, já que há um maior risco de ruptura do útero na região da cicatriz. Converse com o seu obstetra a respeito.

7) No parto normal, sempre é feito um corte no períneo?
No geral, sim. Esse corte, chamado de episiotomia, consiste na incisão transversal que o obstetra faz na vulva com a intenção de aumentar o canal de parto e não dilacerar a vagina quando o bebê sair. Finalizado o parto, a abertura é fechada com pontos microcirúrgicos, sem interferir na anatomia dos tecidos. No entanto, atualmente, há um grande questionamento, quanto aos benefícios desta prática. Portanto, alguns médicos já deixaram de indicá-lo.

8) Na gravidez múltipla, é mais comum ter parto normal ou cesárea?
Atualmente a maioria dos obstetras prefere realizar uma cesariana para o nascimento de gêmeos. O parto vaginal deve ser reservado para aqueles casos em que os dois bebês estão de cabeça para baixo e nas quais o obstetra tem certeza de que a bacia da mãe é boa para suportar o nascimento dos bebês. Quando as condições ideais para um parto normal estão presentes, ele transcorre da mesma forma que o nascimento de um único nenê. Em geral, o segundo nasce com uma diferença de tempo que varia de 15 a 30 minutos. No caso da cesárea, eles nascem com apenas alguns poucos minutos de diferença.

9) O parto natural é mais demorado do que a cesárea?
Sim, já que as contrações podem começar muitas horas antes do nascimento do bebê. Ainda no hospital, é preciso esperar pela dilatação ideal e pelo processo do nascimento em si. Mas saiba que o desconforto que a mãe sente é totalmente suportável e há várias formas de diminuir as dores. Elas só ficam realmente fortes próximo ao momento do nascimento.

10) Como é o parto induzido?
De modo geral esse tipo de procedimento é realizado antes de começarem as contrações uterinas espontâneas. Portanto, os médicos a provocam com medicamentos. A substância utilizada chamase ocitocina, e é aplicada via endovenosa. A partir do momento que a paciente começa a ter contrações regulares o parto prossegue da mesma forma que o parto não induzido.

11) Em que situações os médicos precisam induzir o parto?
O parto pode ser induzido quando se deseja o término da gestação antes da chegada natural do trabalho de parto. Isso acontece em gestantes que tenham algum problema de saúde sério como hipertensão arterial. Também é necessário induzir o parto caso o bebê esteja em sofrimento fetal grave, ou seja, baixa oxigenação.

12) Quais os exames realizados no dia do parto?
O principal é o exame clínico feito pelo obstetra que, percebendo qualquer alteração, pode solicitar uma ultra-sonografia, uma cardiotocografia (para analisar a oxigenação da criança) e até mesmo um exame de sangue.

13) Quais as vantagens do parto normal para a mulher?
São muitas. As principais são um menor risco de infecção hospitalar pós-parto, recuperação mais rápida da mãe e menos chance de complicações cirúrgicas. Além disso, durante o nascimento há uma descarga hormonal que propicia maior bem-estar emocional em relação ao nascimento.

14) É verdade que, algumas vezes, a mulher fica horas em trabalho de parto e acaba tendo de fazer cesárea?
Sim, isso pode ocorrer. Por algum motivo a dilatação pode deixar de evoluir e o nenê entrar em sofrimento fetal. Nesse caso, o médico optará em fazer a cesárea. Mas é bom que fique claro: esse tipo de ocorrência é bastante esporádica.

15) No parto normal também é possível utilizar a anestesia?
Dependerá do tipo de parto. Na cesárea, obviamente, a anestesia é dada logo antes do início da cirurgia. No parto vaginal, a analgesia é dada caso a gestante não esteja tolerando as dores e já exista uma boa dilatação (acima de 7 centímetros) e que o bebê esteja em posição adequada para o nascimento.

16) Exames durante a gestação podem mostrar se a criança é grande demais para nascer por parto normal?
Podem sim. Tanto o ultra-som, quanto um bom exame clínico. Mas isso é muito raro ocorrer, pois a cesárea somente se justifica caso a bacia da mãe seja desproporcional ao tamanho do nenê.

17) Quais os efeitos colaterais da anestesia usada na cesárea?
Atualmente os riscos são muito pequenos e as complicações são raríssimas. Dentre as preocupações estão a passagem do anestésico para o bebê (que é mínima em todos os tipos de anestesia) e a queda da pressão arterial da mãe que pode ser evitada com uma boa hidratação.

18) Cordão umbilical enrolado no pescoço do bebê é motivo para indicar a cesárea?
Não necessariamente. Cerca de 20% dos bebês apresentam o cordão umbilical enrolado em alguma parte do corpo e tal fato não provoca nenhum tipo de mal ou prejudica o nascimento. Ele se desenrola naturalmente durante o parto. Só há problemas com o cordão umbilical quando ele apresenta algum defeito de formação. Mas isto é raríssimo e é detectado antes do parto.

19) Quais as vantagens do parto normal para o nenê?
O índice de mortalidade em bebês de parto normal é cinco vezes menor do que os que nascem por meio de cesariana. Além disso, o trabalho de parto faz com que o corpo da mulher passe por reações químicas muito importantes, responsáveis pelo amadurecimento dos órgãos vitais da criança, principalmente os do sistema respiratório. A passagem pela vagina também acaba facilitando a limpeza dos líquidos que estão no pulmão do nenê.

20) Quanto tempo dura uma cesárea?
O tempo cirúrgico de uma cesariana sem complicações, incluindo a espera pelo efeito da anestesia, é em torno de 50 minutos.

21) A analgesia usada no parto normal pode atrapalhar o nascimento?
Não. O anestésico, injetado superficialmente na coluna, não causa perda total de sensibilidade da região do abdome. Assim, a mulher mantém toda a sua capacidade de fazer força e de controlar o processo inteiro sem sentir tanta dor. "Empurre, empurre, empurre". Você ouvirá isso da equipe médica e controlará totalmente o movimento e a força, mesmo anestesiada.

22) A anestesia da cesárea provoca dor de cabeça?
Antigamente, como as agulhas eram grossas, parte do líquido da coluna escapava, provocando a dor. Como as agulhas utilizadas atualmente são muito finas, são raros os casos de dor.

23) Como é a recuperação do parto normal?
Cerca de cinco horas após dar à luz a mulher já consegue se movimentar sem auxílio. Ela também quase não sente dor, porque não sofreu cortes em estruturas internas. Pode perceber apenas um incômodo na região do períneo. Por não haver um grande corte, a recuperação é mais rápida e bem tranqüila.

24) Quais as desvantagens físicas do pós-cesárea?
A recuperação é lenta e, algumas vezes, dolorida. Estudos recentes também mostram que o risco de depressão pós-parto é até três vezes maior na cesárea. Bebês que nascem de cesariana com hora e data marcada podem ser prematuros, pois não há garantia total de que o médico tenha acertado nas contas em relação ao dia do nascimento.

25) Com a cesárea, é maior o risco de infecção?
Sim. Por causa da intervenção cirúrgica os riscos de infecção são bem mais elevados. A média é de 19% no parto normal contra 67% na cesárea.

26) Quais os sinais do parto?
Os sinais variam e algumas mulheres não sentem muitas alterações no corpo. Mas as contrações (para algumas mais incômodas, para outras menos) são sempre percebidas - com dor irradiada para as costas. Outros sinais, como a perda do tampão mucoso, ruptura da bolsa, sangramentos e redução dos movimentos do feto, podem não ocorrer em todas as parturientes, mas se acontecem, devem ser comunicados ao médico.

27) Como deve ser a dilatação?
Progressiva e atingir aproximadamente 10 centímetros para garantir o período expulsivo e o nascimento.

28) para amenizar as dores?
Respirar lenta e profundamente, se movimentar, relaxar, massagens e ficar na banheira com água quente.

29) Como deve ser a respiração durante o trabalho de parto?
É importante durante todo o trabalho de parto que a gestante mantenha a calma o máximo possível. Assim, entre outros fatores, a respiração ficará naturalmente adequada ao momento da contração. Inspirações rápidas e ofegantes, principalmente aquelas fora de sincronia com as contrações, não são adequadas e acabam por causar ansiedade. O ideal é a inspiração profunda durante a contração com expiração mais lenta e gradual do ar inspirado, à medida que a dor diminui. Também é importante imaginar o relaxamento da musculatura do tórax sempre que respirar. Esse método fornece sempre um pouco mais de oxigênio para a mãe e para o bebê e ajuda a relaxar.

30) Como é o período expulsivo?
É aquele que começa após atingir a dilatação total do colo uterino (10 centímetros) e termina com o nascimento. É o momento em que as contrações têm seu grau máximo de intensidade e quantidade.

31) Quanto tempo dura o período expulsivo?
De modo geral, dura de 40 minutos a 1 hora. É nessa fase que o bebê faz um movimento lento e gradual de cima para baixo, como se ele estivesse em um escorregador em forma de "J".

32) Como a mulher deve fazer força?
A parturiente precisa da orientação do obstetra para que o seu desgaste seja o mínimo possível e para que a força seja eficaz. Ela precisa ser contínua, no sentido de empurrar o bebê para baixo, como se a mulher estivesse evacuando.

33) Quando a mulher deve fazer força?
O momento adequado é logo após o período expulsivo. Quando a cabeça do bebê encosta sobre a parte interna do períneo (vulva), e se diz que o bebê está coroando, ou seja, a cabecinha atingiu o final daquele trajeto em forma de "J".

34) É importante a ajuda do marido no dia?
O futuro papai pertence à gravidez. Para algumas mulheres, essa cumplicidade dá conforto e segurança, pois elas precisam de muito apoio para enfrentar as dificuldades inerentes ao momento.

35) Como o parceiro pode ajudar?
De inúmeras maneiras. Muitas vezes, a simples presença já faz toda a diferença. Mas ele pode ainda auxiliar a mulher nas respirações, passear com ela pelo quarto enquanto a diltação evolui, conversar. Uma excelente tarefa para o pai nesse momento é fazer massagem na mãe, um ato de carinho que também alivia a dor e dá segurança.

36) Que tipo de massagem o marido pode fazer na esposa?
Sempre optar por movimentos suaves que funcionem mais como um toque de carinho. A massagem é efetiva quando a gestante se mostra favorável.

37) O que é parto humanizado?
É aquele que tem por objetivo livrar o processo todo de atos médicos. Esse tipo de nascimento, que está começando a ganhar força no Brasil, tende a ser o mais natural possível, com muito conforto e liberdade para a parturiente, mas sempre rodeado por medidas de segurança por parte dos profissionais envolvidos.


38) Quando a criança nasce é importante colocá-la sobre o corpo da mãe?
Esse tipo de conduta é muito importante tanto no parto normal quanto na cesárea pois o bebê se sente muito mais seguro após sair daquele espaço em que ficou guardado por nove meses. E é importante também para a mãe que tem o primeiro contato físico com seu filho recém-nascido. Entretanto, antes de colocar o bebê junto com a mãe é importante que os médicos se assegurem de que ele esteja respirando de forma adequada, e chorando. Depois, é só curtir o nenê.

Números do exagero
O Brasil mantém uma taxa altíssima de cesáreas (79,7% - relativo ao atendimento coberto pelos usuários de planos de saúde e 27,5% das pacientes que utilizam o SUS) quando comparada à máxima aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que é de 15%. Em países como a Holanda, por exemplo, o índice é de 14%. Na Noruega e Suécia, 16% e na Dinamarca, 17%.

Fonte: Site Meu Nenê

4 comentários

  1. amiga que legal esse texto....vi ele e fiquei curiosa para ler tudinho.Eu sou uma que fez parto cesáreo,e hj me arrependo.Sofri muito na minha recuperação, fiquei anêmica.Optei pelo PC pois a maternidade era muito longe da minha casa e tinha mais uma prova na facul para fazer, rsrsrsrsrsrs.Mas não era motivo né?
    Se Deus quizer eu vou ter outro filho e vai ser de PN......!!!!!!
    Beijos amiga amei o textoq

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  2. Oi Ju, olha amiga, eu sinceramente não sou nada radical quanto a esse assunto, acho que cada mulher tem o direito de optar, por motivo de saúde, por indicação médica, por medo, por conveniência, ...

    Depois que virei mãe uma coisa que aprendi é que cada um sabe a sua realidade e não se pode julgar.

    Eu acho que vc fez o que acho melhor pra vc e seu bb, até pra não correr riscos.

    Eu, no contra-ponto, tive um PN, mas foi muito complicado o pós-parto, tive muitas complicações e sinceramente não sei se quando engravidar de novo não vou optar por uma cesárea.

    bjoss,
    Alê

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  3. Ô duvida Cruel mesmo...
    Tive dois partos Cesareos♥
    Minha recuperação foi Ótima tanto de um qnto do outro♥
    Ótimo Fim de Semana e Bitocas♥

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  4. Olá, lindo o seu blog!
    Conheça o trabalho de uma Doula!
    Também relacionado a maternidade, gestação e cia!http://nadiadoula.blogspot.com/
    Bjos

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